Uma História Pitoresca: As Exéquias da Palmatória

A utilização de castigos na educação é antiga, tão antiga, quanto polêmica, confunde-se com a própria história dessa instituição basilar. Dentre os instrumentos de punição física, a palmatória talvez seja um dos mais conhecidos. Utilizada nos alunos indisciplinados, a férula, como também era chamada, causava medo entre os estudantes.
Presente em diversos países, sua prática só foi abolida na Inglaterra, no final do século XX, em 1989, e ainda é usual em algumas nações, principalmente as orientais.
No Brasil em 1980, os castigos corporais foram criminalizados e com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, a palmatória foi suprimida.
Segundo a historiadora Mary Del Priori, em seu livro “A História das Crianças no Brasil”, o artefato foi introduzido na colônia brasileira pelos jesuítas como ferramenta disciplinadora. Amplamente difundida, foi ferozmente utilizada pelos senhores de escravos nos cativos desobedientes. "A partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas aulas régias, a palmatória era o instrumento dessa época, dirigido aos professores” (PRIORI apud LIMA).
Na Uberaba de meados do século XIX, era também comum a utilização desse instrumento como corretivo para as faltas cometidas pelos alunos. De acordo com PONTES (1992), o medo do castigo era um estímulo para que os estudantes se dedicassem à aprendizagem.
A história que se segue, sobre a palmatória, é baseada em um texto do referido autor, e encontra-se no livro: “Vida, Casos e Perfis”.
O professor Francisco José de Camargos, popularmente conhecido por Mestre Camargos, protagonizava um acontecimento singular envolvendo o temido artefato. Contrariando o hábito da maioria dos outros docentes que não realizavam nenhuma festa comemorativa, o Mestre celebrava com os alunos, no final do ano, no dia 13 de dezembro, data consagrada a Santa Luzia, o enterro da palmatória. (A férula era chamada de Santa Luzia).
Com a presença de todos os estudantes, a cerimônia tinha início com a decoração da palmatória com flores naturais. Após ter sido “paramentada”, ela era colocado em um caixãozinho fúnebre e carregada por vários alunos. Quem não tinha o privilégio de levá-la entoava um hino adequado para a célebre ocasião e todos, em procissão, seguiam rumo ao quintal da escola, onde o ataúde era enterrado.
            Finda a “solenidade”, os alunos se despediam do professor e entravam de férias. No ano seguinte, frente à primeira falta grave de um dos estudantes, acompanhado dos colegas e do Mestre, o indisciplinado ia exumá-la para que recebesse o castigo devido.

Cíntia Gomide Tosta

Referências

PONTES, Hildebrando de Araújo. Vida, Casos e Perfis. Uberaba: Arquivo Público de Uberaba, 1992.

PRIORI, Mary del. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto. 1999.

LIMA, Raymundo. Palmada educa? Revista Espaço Acadêmico
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/042/42lima.htm

http://originalolindastyle.webnode.com.br/artigos/palmatoria/

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