CINE THEATRO SÃO LUIZ E OS PRIMÓRDIOS DA DRAMATURGIA EM UBERABA



Cíntia Gomide Tosta

Pontuada de altos e baixos, a história do Cine Theatro São Luiz é antiga e está entrelaçada aos primórdios da dramaturgia em Uberaba. Segundo PONTES (1907), o padre Zeferino Batista foi o precursor desta arte na cidade, exercendo o papel de diretor cênico dos dramas, comédias e monólogos. Dos autores teatrais da época, destacava-se o Sargento Antônio Cezário, criador, entre outras, da comédia “O Collegio de D. Abelha”, obra que tecia uma fina crítica a alguns atos clericais.
 Desde 1835, grupos de teatro amador apresentavam-se em palcos improvisados feitos de assoalhos elevados, nas ruas, praças e quintais das moradias uberabenses. Quase sempre cobertos por telhados construídos com folhas de coqueiros, a pintura desses espaços arranjados, bem como a decoração cênica dos espetáculos, ficavam a cargo do talentoso escravo Jerônymo Mendes.
Em 1862, a popularidade das peças teatrais era tanta que um grupo de dez cidadãos se reuniu para construir um teatro. Tendo vários sócios fundadores, dentre eles João Pedro de Antiochia Barbosa (presidente), Antônio Cesário da Silva e Oliveira filho (secretário), Maximiano José de Moura (tesoureiro), o grupo contava ainda com sócios auxiliares e de representação como Raimundo Des Genettes, Fernando Vaz de Melo, Venceslau Pereira de Oliveira (BILHARINHO, 2007). O capital para a construção do teatro foi proveniente de mensalidades pagas pelos sócios fundadores, doações e lucros de apresentações.
Em maio de 1864, dois anos após o início das obras, em plena Festa do Divino, o primeiro prédio foi erigido e inaugurado por esses empreendedores. Ainda inacabada destacava-se na obra o pano de boca desenhado pelo tabelião Luiz Beltrão de Souza Fleury com a temática “Farinha Podre” (PONTES, 1907).
Construído em um local conhecido por “Pastinho”, ao lado direito da igreja Matriz, e edificado por Joaquim Francisco de Ananias, o prédio foi inaugurado com duas apresentações de grande sucesso: “Os Dois Renegados”, uma peça dramática, e a comédia: “A Feira de Sorocaba”, ambas dirigidas e encenadas por diletantes. Após uma série de espetáculos e um incidente envolvendo uma atriz, a casa de cultura foi esquecida.
 Em 1871, Henrique Raimundo Des Genettes e um grupo de amadores reergueram-na. Em consequência a novos episódios de sucessos e de ostracismo e frente à necessidade de se ter na cidade um local adequado para o lazer e a informação, foi organizada a Associação Dramática Uberabense, composta por Fernando Terra (presidente), Zeferino Borges Sampaio (vice-presidente), Antônio Augusto Pereira de Magalhães (1º secretário), Belmiro dos Santos Castro (2º séc.) e Antônio Moreira de Carvalho (tesoureiro), cujo objetivo era reconstruir o antigo teatro.
Graças a vários serviços prestados à empreitada pelo benemérito Luiz Soares Pinheiro, a diretoria da Companhia Dramática Uberabense manifestou sua gratidão ao ilustre cidadão, dando à casa de espetáculos o nome de Theatro S. Luiz (PONTES, 1907).
Mais uma vez, apesar de ter uma nova associação, e de ter sido gasto um valor considerável com os reparos em sua estrutura arquitetônica, o teatro viveu um período de grandes êxitos e de abandono. Em 1903, o Agente Executivo Major Anthero Ferreira da Rocha determinou a sua reconstrução, gastando uma quantia vultosa (ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA, 2001).
De acordo com o livro Atos do Executivo nº 03, da Câmara Municipal, pág. 12 (Acervo APU), o prédio comportava 200 pessoas na plateia, aproximadamente 200 nas gerais e possuía 15 camarotes, excetuando os da polícia.
Em 08 de maio de 1926, a Lei Municipal nº 529 autorizou o Agente Executivo Coronel Geraldino Rodrigues da Cunha a transferir a propriedade do terreno do antigo Theatro São Luiz aos empresários Orlando e Olavo Rodrigues da Cunha, para que nele fosse construído um cineteatro. (IPAC, 2010)
Fundado sob a razão social de Orlando Rodrigues da Cunha e Cia Ltda e construído pela empresa Santos Guido Cunha & Cia., sob a supervisão do engenheiro Guilherme de Oliveira Ferreira, o Cine Theatro São Luiz, localizado na praça Rui Barbosa foi inaugurado com grande festividade, em 25 de maio de 1931.
Considerado um dos mais modernos cineteatros do país, projetado por um arquiteto especializado e decorado suntuosamente com moldes importados da Espanha, a casa luxuosa tinha frisas, cortinas de veludo, camarotes, palco, tela móvel e abrigava a melhor tecnologia da época, em cinema sonoro (CONPHAU, 2010).
Apresentaram-se no Theatro peças renomadas, vindas diretamente do Rio de Janeiro e de São Paulo. Procópio Ferreira, Eva Tudor, Jayme Costa, Rodolfo Mayer, Rocambole foram alguns dos artistas que ali representaram.
Do período de sua inauguração, em 1931, até a contemporaneidade, o prédio sofreu várias intervenções em sua fachada. Em 1938, passou por uma reforma e nela foram retirados frisas e camarotes, mantendo o mesmo padrão de qualidade (IPAC - UBERABA-MG). Criou-se, em dezembro de 1939, a Empresa Cinematográfica São Luiz, oriunda da firma Orlando Rodrigues da Cunha e Cia. Ltda. com o novo sócio Joaquim Machado Borges (BILHARINHO, 2007).
Em 1970, o São Luiz sofreu nova reforma total, em que até o visual da fachada foi modificado. Todo o mobiliário foi substituído, bem como o sistema de som e de climatização. Atualmente, apesar de toda essa história e do valor cultural, está desativado.

Referências
1. ALMANACH UBERABENSE. A arte dramática em Uberaba – Theatro são Luiz (Hildebrando Pontes). Uberaba: Livraria Século XX – Casa Editora. 1907. Acervo do Arquivo Público de Uberaba.
2. ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA. Catálogo Seletivo do Departamento Fotográfico do Arquivo Público de Uberaba. Série: Imagens Fotográficas de Uberaba, 2001.
3. BILHARINHO, Guido. Uberaba. Dois Séculos de História. (dos antecedentes a 1929). Volume 1. Uberaba: Arquivo Público de Uberaba. 2007.
4. CÂMARA MUNICIPAL DE UBERABA. ATOS DO EXECUTIVO, nº 03.
5.CONPHAU - ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS IPAC – UBERABA – MG, 2010.



Comentários

Unknown disse…
Uma pena que este belo teatro tenha sido desfigurado com o tempo e recentemente tenha sido destinado para uso como loja popular.
É uma grande perda para a memória cultural e arquitetônica da cidade.
Unknown disse…
Povo triste que sem consciência da perda arquitetônica e espaço cultural, perde a memória.

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