Greve dos Cocheiros em Uberaba no ano de 1909

                   
Redação: Luiz Cellurale
Pesquisa: Miguel Jacob Neto


          Em 1909, uma greve (ou parede, como era conhecida) dos cocheiros paralisou o sistema de transporte público da cidade, feito por meio de charretes e carroças

          Naquela época, não havia outra alternativa para a locomoção de passageiros e de mercadorias. Além da população local, os viajantes que chegavam à cidade também sofriam quando desembarcavam na Estação da Mojiana,  pois eram obrigados a fazer o trajeto até o centro da cidade à pé, passando pela rua Artur Machado (antiga Barão de Ataliba), carregando suas malas, caixotes e outros artigos para negócios no comércio local.

Praça da Estação da Mogiana, no começo do século XX,
próximo, atualmente, ao Jornal da Manhã


           Ao analisarmos a foto, percebemos toda a extensão da rua Artur Machado. No fundo vê-se a torre da Igreja Matriz, na Praça Rui Barbosa, onde se concentravam a maioria dos hotéis e o efervescente comércio. Era uma distância considerável.
          Um dos motivos da paralisação dos cocheiros estava ligado à tabela de preços de passagens estipulados no Código de Posturas Municipais desde 1893, conforme veremos:

Art. 4º Fica alterado da seguinte forma a cobrança do imposto sobre carroças e vehiculos de aluguel;
§ 1º cada carroça de aluguel para condução de cargas no perímetro da cidade pagará anualmente o imposto de 15:000;
§ 2º Cada Troly ou outro vehiculo de passageiro que funcione no mesmo perimetro pagará 30:000 ahualmente;
§ 3º Tanto as carroças como os vehiculos referidos nos paragraphos antecedentes ficam sujeitos a numeração e registro na municipalidade;
§ 4º Os proprietarios dos carros supra-citados ficam ainda obrigados a requererem licença, obtendo alvará todos os anos;
§ 5º A licença referida no paragrapho antecedente deve ser requerida do dia 1º a 31 de Janeiro de cada exercicio;
§ 6º Os contraventores pagarão a multa de 10:000 e o duplo na residência;
(Atas da Câmara Municipal de Uberaba. Livro  03 p. 142 v, 143 e 143 v)

          Ocorre que o Chefe do Executivo publicou um edital chamando a atenção dos cocheiros para os artigos do Código de Posturas que lhes diziam respeito e solicitou ao Delegado de Polícia, dr. Leon Rouseouliòres, para que cumprisse a Lei Municipal. Segundo artigo publicado no jornal "Lavoura e Comércio":

seriam punidos os cocheiros que abandonarem os vehiculos sob sua direcção, que exigirem do passageiro maior preço do o que o da tabella, que chamarem passageiros com imprudencia, atordoando-os ou a outras pessoas e que fizerem algazarra na estação da estrada de ferro perturbando a ordem e invadindo atropeladamente a plataforma. Além de carreiras exageradas em ruas ruins, falta de compostura nos acompanhamentos fúnebres, algazarra na praça da Matriz, etc. (Lavoura e Comércio, 4 de novembro de 1909)

             Depois dessas medidas, ocorreu uma verdadeira batalha entre os cocheiros e fiscais. Outra queixa dos condutores se referia à violência com que os fiscais cumpriam as exigências do Agente Executivo, especialmente por parte do fiscal Genésio Vannucci. Segundo os cocheiros: "não é com violência nem com má criação que se fiscaliza." (Lavoura e Comércio, 8 de novembro de 1909)
           
Cocheiro conduzindo sua charrete no centro da cidade - 1909

                O jornal Lavoura e Comércio exortou os condutores a desistirem da greve e a retornem ao trabalho, visto que estariam prejudicando a população, o que não contribuía para o avanço de suas reivindicações.  Nesse caso, sugeria que as queixas contra o fiscal fossem encaminhadas diretamente ao Agente Executivo. Um dos destaques da matéria do jornal referia-se ao apoio da direção do jornal aos trabalhadores. No entanto, manifestava a perspectiva de resolução dos problemas enfrentados pelos cocheiros por meio dos caminhos políticos e não pelo movimento grevista.
          Através de edital, o Agente Executivo tentou substituir os cocheiros por carregadores e logrou até a sua regulamentação como profissão, com objetivo de esvaziar a greve:

O serviço está sendo feito de acordo com o edital que motivou o movimento grevista. Na estação o serviço de conducção de malas dos wagons para os carros ou destes para a plataforma é feito por meio de carregadores. O que a Câmara deve fazer é regulamentar esse duro serviço exigindo que todo carregador se matricule e seja remunerado. (Lavoura e Comércio, 11 de novembro de 1909)

   Depois desta medida, a greve, que durou quatro dias, terminou. O repórter do jornal Lavoura e Comércio, do dia 11 de novembro de 1909 concluiu sua matéria afirmando: " os dias que estiveram parados os cocheiros aproveitaram para asseiar, melhorar, luzir os seus carros que parecem todos novos, com as suas toldas luzidias, faiscando aos raios de sol. Há males que vêm para bem"! (Lavoura e Comércio, 11 de novembro de 1909)
  A paralisação dos cocheiros pode ter sido a primeira greve que aconteceu em Uberaba  e foi condenada pelo jornal. Será que essas coisas ocorrem atualmente?

Fontes: 

Lavoura e Comércio, 4 de novembro de 1909 - 8 de novembro de 1909 e 11 de novembro de 1909, Acervo da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba;
Atas da Câmara Municipal de Uberaba, Livro  03 p. 142 v, 143 e 143 v; Acervo da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.





  

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